quinta-feira, 28 de abril de 2011

Educação e Sociedade da aprendizagem: um olhar sobre o potencial educativo da Internet



Actualmente a Internet é o meio mais utilizado na sociedade para transmitir e receber informação. Coutinho & Alves citam Jonassen para dizer que as TIC e a Internet são ferramentas cognitivas e sociais que modificam a forma de comunicar, interagir e aprender. Isto implica que todo o conceito de aprendizagem seja alterado, exigindo uma mesma alteração na formação que a Escola e os professores proporcionam.


A influência que a Internet desempenha na aprendizagem, nos dias de hoje, é de conhecimento geral e não pode ser anulada. Tanto o é, que já existem modelos de formação à distância, através de comunicação instantânea e criação de grupos de aprendizagem. Sendo assim, são vários os autores, citados por Coutinho & Alves, que têm estudado o potencial que a Internet pode trazer quando implementada como meio de aprendizagem, tais como Souza, Silva, Dias, Machado, entre outros. São inúmeras as conclusões a que estes autores chegaram, que nos alertam para as principais vantagens desta utilização, bem como para as suas desvantagens. Segundo Coutinho & Alves, Neto conseguiu sintetizar os aspectos mais importantes associados ao uso da Internet na aprendizagem: a flexibilidade de tempo, a independência geográfica, os baixos custos, o acesso a fontes de informação, a perenidade da informação, a aprendizagem activa, o espírito crítico, a partilha do saber, a existência de público, a educação global, a abertura ao mundo e a motivação.


Utilizando a Internet como motor de pesquisa, o utilizador pode escolher o horário que lhe for mais útil para realizar os seus trabalhos - flexibilidade de tempo. Isto pressupõe que este possua um computador em casa ligado à rede, o que nem sempre acontece podendo gerar desigualdades. Se houver possibilidade de ter um computador ligado em rede, qualquer escola, mesmo a mais isolada, pode receber e transmitir informação actualizada - independência geográfica. A questão dos baixos custos é relativa, para uma família o acesso à Internet pode ser considerado baixo, enquanto que para outras pode nem sequer ser possível. O acesso a fontes de informação diversas e actuais é facilitado e mantém-se, ou seja, outras pessoas podem mais tarde ver o mesmo conteúdo - perenidade de informação. Como o aluno é obrigado a realizar uma aprendizagem activa (numa perspectiva construtivista), o seu espírito crítico é desenvolvido (melhoram a capacidade de seleccionar informação). Para além disso, a Internet permite a partilha do saber, ou seja, permite que o trabalho de um aluno possa vir ajudar a desenvolver o trabalho de outro aluno de uma escola diferente. A possibilidade de poder mostrar e ver diferentes perspectivas ajudam à aprendizagem e à formação do aluno, que partilha e pesquisa a resolução de problemas - educação global. Isto possibilita que novas culturas sejam conhecidas e melhor compreendidas, criando um individuo mais tolerante - abertura ao mundo. A existência de público a visualizar trabalhos realizados por alunos, faz com que estes os executem com muito mais cuidado e atenção, levando também ao aumento de comunicação com os outros e à curiosidade - motivação.


A Internet veio tornar mais fácil a comunicação entre toda a comunidade escolar, ou seja, entre alunos, professores e encarregados de educação, e, desta forma, melhorar a relação entre estes. Para isso, foram utilizadas várias ferramentas que podem ser agrupadas em ferramentas de comunicação síncronas e ferramentas de comunicação assíncronas. As ferramentas de comunicação Síncronas (chat, videoconferência e audioconferênia) permitem discussões em tempo real. Facilitam o discurso espontâneo, mas podem levar à dispersão do assunto-chave. As ferramentas de comunicação assíncronas (email, fóruns, newsgroups...) permitem que a comunidade assimile melhor aquilo que está a ser discutido.


Para além de melhorar a comunicação, a Internet também veio possibilitar que as pesquisas sejam realizadas numa mais abrangente área de informação, quer para alunos, quer para professores. A pesquisa de forma aberta (apenas com o tema, sem recurso a sites específicos) ou utilizando os mesmos padrões (usando o mesmo endereço e de forma semelhante), permite a participação e o envolvimento entre todos e a construção colaborativa do conhecimento. As webquests surgem, quer para orientar as actividades de pesquisa utilizando a Internet, quer para ensinar os professores a utilizar a Internet com criatividade de consciência, ou seja, permitem favorecer a aprendizagem colaborativa e os processos de investigação. O princípio base das webquests é promover o conhecimento individual e colectivo através da partilha de informação. Só assim se obtêm reflexões profundas e aprendizagens mais sustentadas. Porém, estas só viriam a fazer o desejado efeito se fossem muito bem planeadas, porque a Internet ainda é um meio de acesso à informação muito desorganizado. Em Portugal, são vários os autores que estudam a utilização educativa das webquests enquanto metodologia de ensino.


Inicialmente a Internet apenas permitia a visualização da informação, o que deixava o utilizador como mero espectador. Para além disso, era restrita a uma parte da sociedade, devido aos seus elevados custos de utilização. Mais tarde, através da evolução tecnológica, foi possível fazer chegar a Internet a um maior número de utilizadores e com menor custo. Surgiu uma segunda geração de Internet, com mais serviços: a Web 2.0. Ela permitia que os utilizadores pudessem, não só visualizar a informação, como introduzir informação na rede, sem que para isso tivessem conhecimentos aprofundados de informática. Coutinho & Alves citam Alexander que diz que associado à Web 2.0, surge um novo conceito: Web social. Ele defende um conjunto de caracterísicas da Web 2.0 que se baseiam na sua facilidade de utilização. Isto atrai mais utilizadores e permite uma informação mais fiável, pois é maior o número de pessoas a visualizar e introduzir informação na Internet (maior é o número de pessoas que podem corrigir informações falsas). Como consequência disso, a Internet é um meio em constante actualização. Das mais diversas ferramentas que usam os princípios da Web 2.0, podem destacar-se: os softwares para criação de uma rede social (como hi5, ning, blogs,...), as ferramentas de escrita colaborativa (como Wikis, blogs, Googledocs,...), as ferramentas de comunicação online (como SKYPE, Messenger, Googletalk,...), as ferramentas de acesso a vídeos (como youtube, googlevideos,...) e as ferramentas de social bookmarking como o del.icio.us. Destas ferramentas, existem aquelas que podem ter um potencial educativo e aquelas que dificilmente o teriam. As mais utilizadas são os wikis, os blogs e s podcasts.


Em Portugal, os blogs são os mais utilizados e conhecidos a nível educativo, daí o interesse de vários investigadores em estudar o impacto da ferramenta no contexto educativo. As principais conclusões destes estudos, revelam que os blogs têm um enorme potencial instrutivo em várias áreas e através de diferentes formas. Os blogs são sites de fácil utilização, em que o usuário pode inserir informação por ordem cronológica reversa. Baseiam-se em métodos de criação, edição e manutenção de uma página Web de forma simples e gratuita. Segundo Coutinho & Alves, para Gomes, há que fazer uma distinção entre os blogs enquanto “recursos pedagógicos”, e enquanto “estratégias pedagógicas”. Os blogs enquanto “recursos pedagógicos” podem dispor de acesso a informação especializada (informação cientificamente correcta e adequada, inserida por entidades credíveis) ou a informação disponibilizada por um professor (onde é o próprio professor que cria e actualiza a informação de interesse para os seus alunos). Os blogs enquanto “estratégias pedagógicas” podem assumir a forma de portfólio digital (permitem organizar e apoiar as aprendizagens e/ou servir como instrumento de avaliação, fazendo com que os alunos possam acompanhar e reflectir os temas abordados nas aulas), espaço de intercâmbio e colaboração entre escolas, espaço de debate (onde o individuo é obrigado a criar argumentos para defender o seu ponto de vista, utilizando para isso o seu potencial de comunicação escrita) ou espaço de integração (um blog colectivo onde todos podem relatar experiências e realidades culturais, promovendo a tolerância).


O Wiki é uma ferramenta da Internet que resulta do trabalho colectivo. É um sítio na web, onde os estudantes podem criar um “armazém” de conhecimento sobre um mesmo tema. Ao contrário dos blogs, qualquer pessoa que visite um Wiki pode introduzir, alterar ou apagar a informação nele presente, ou seja, não é preciso estar registado. Coutinho & Alves, citam Bottentuit Junior & Coutinho para dizer que os wikis permitem interagir e colaborar directamente com os alunos, trocar ideias, criar aplicações, propor linhas de trabalho para determinados objectivos, recriar ou fazer glossários, dicionários, ver todo o historial de modificações e gerar estruturas de conhecimento partilhado. No entanto, ainda são escassos os estudos realizados que apresentem o potencial dos wikis, embora os que existem lhes sejam favoráveis.


O podcast é das mais recentes e promissoras ferramentas da web 2.0. ele permite a publicação de conteúdos audio nas páginas web, ou seja, o professor passa a poder colocar ao dispor do seus alunos materiais didácticos em formato audio, que podem ser ouvidos a qualquer hora e em qualquer lugar. Coutinho & Alves recorrem a Bottentuit Júnior & Coutinho para dizer que o podcast a nível educativo é de fácil utilização e permite a utilização de textos, imagens, audio, vídeo e hipertexto. Para além disso, é uma forma gratuita e organizada, com vários tipos de servidores que permite acesso ao conteúdo publicado e que os seus utilizadores recebam as actualizações através de feeds. O podcast pode ser utilizado directamente no computador ou através de download dos ficheiros para os dispositivos de reprodução digital de audio (o que permite ao aluno ouvir o conteúdo as vezes que quiser, sem necessidade de estar ligado à Internet). Pode também ser usado em grupo, o que potencializa a aprendizagem colaborativa. Os estudos acerca dos podcasts educativos são ainda poucos.


Existem outras ferramentas web 2.0 bastante interessantes para explorar, embora menos utilizadas: o Google Calender, o Docs&Spreadsheets, o Google Sites, o De.lici.ous, o Messenger, o Skype, e o Google Talk. O Google Calender, utilizado a nível educativo, pode servir para agendar encontros e enviar mensagens quando os eventos estiverem próximos da data em que se vão realizar, fazendo com que o alunos não se esqueçam das datas dos trabalhos a enviar. O Docs &Spreadsheets permite aos alunos utilizar as funcionalidades básicas do Office, sem que para isso tem instalados no seu computador o Word, Excel ou PowerPoint. A maior vantagem associada a este é que vários usuários podem editar o mesmo documento, promovendo a colaboração. O Google Sites permite a criação de páginas de Internet, mesmo com poucos conhecimentos de informática. O De.lici.ous permite a criação de uma colecção de links na web, que pode ser partilhada com colegas de turma. O Messenger, o Skype e o Google Talk permitem a troca de informação, quer através da voz, escrita ou imagens, em tempo real e com facilidade.


A utilização das TIC e dos serviços de Internet podem trazer mudanças positivas no sistema de aprendizagem implementado nas escolas. No entanto, as escolas têm ainda dificuldade em aplicar os novos cenários de educação e aprendizagem através da web. O governo português implementou o Plano Tecnológico de Educação, que tem como objectivo colocar Portugal nos países mais avançados na modernização tecnológica do seu sistema educativo. No entanto, a aquisição de equipamentos está a sobrepor-se à utilização das TIC na vertente pedagógica. O ensino baseado na web é um ensino muito mais firme e desafiante, tanto para professores como para alunos. Não faz sentido ignorar o poder que a Internet tem na aprendizagem dos alunos e a quantidade de conteúdo útil que tem para oferecer.

















Referência Bibliográfica





COUTINHO, Clara Pereira; ALVES, Manuela (2010) Educação e Sociedade da aprendizagem: um olhar sobre o potencial educativo da Internet, Revista de Formación e Innovación Educativa Universitaria. Vol.3, Nº4, (pp. 206 - 225)






sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ensinar pela Imagem

O ensino pela imagem remete-nos para um reconhecimento e valorização da própria imagem, isto é, a imagem assume uma linguagem específica e deixa de ser apenas um auxiliar ao serviço de outras linguagens. (Lencastre & Chaves, 2003)


Achamos que esta situação é mais evidente nos primeiros anos do ensino básico. Frequentemente, recorremos a imagens para associar as letras à imagem. Por exemplo, mostramos à criança e afixamos nas paredes da sala de aula, sucessivos cartazes em que a letra do abecedário está associada a uma imagem relacionada com a mesma letra. Parece-nos imprescindível que assim seja. O que seria um livro do 1º ano, por exemplo, sem imagens? A aprendizagem tornar-se-ia muito difícil, certamente.


Quando utilizamos a imagem para ensinar estamos a ler essa imagem. No entanto, é evidente que ler imagens não é assim tão linear, pois a nossa visão faz uma selecção daquilo que nos atrai a atenção, tornando, assim, a nossa leitura parcial. (Lencastre & Chaves, 2003)


Visto que o ensino pela imagem poderá trazer algumas desvantagens, se mal utilizado, Lencastre & Chaves alertam para algumas regras que devemos levar em conta na aplicação deste método de ensino.


Estes autores defendem que devemos exibir a(s) imagem(ns), sempre, duas vezes, delineando, assim, duas etapas.


Os autores citam Moderno para denominar a primeira etapa de “vagabundagem visual”. Nesta etapa os alunos vêem de forma espontânea, não há mediação por parte do professor.


Num segundo visionamento, faz-se um “inventário da imagem”. Nesta segunda etapa, o professor conduz um diálogo com os alunos no sentido de explorar a imagem, chamando a atenção dos alunos para os aspectos mais importantes, levando, por isso, a um estudo mais científico. (Lencastre & Chaves, 2003)


O papel do professor assume-se como um moderador. Achamos que o professor nunca poderá ser banido das salas de aula. É certo que o professor tem vindo a ocupar diferentes posições e a desempenhar diferentes papéis à medida que o mundo evolui, no entanto, parece-nos, evidente a presença (nem que seja à distância, por exemplo, através do e-learning) de um professor no processo de ensino-aprendizagem.


Muitos professores, ainda temem, ensinar pela imagem, pois acham que poderão ser substituídos por elas, ou então, porque pertencem a uma geração que não cresceu com as imagens e, por isso, não se sentem confortáveis nesta área. Talvez, o estado da educação no nosso país, seja inibidor de professores que queiram inovar um pouco, pois facilmente, podem cair no ridículo, visto esta nova geração dominar os ecrãs e as imagens com mais facilidade do que as gerações modernas.


Lencastre & Chaves (2003) dizem precisamente o contrário: “a imagem não substitui o professor” e citam Bullaude para reforçar a ideia de que “a imagem é um prolongamento das capacidades de comunicação do professor e implica-o muito directamente no ensino-aprendizagem.


O papel da imagem no acto ensino-aprendizagem só será reconhecido, se houver uma integração da informação adquirida nos conhecimentos que o aluno já detém.


Para que o ensino pela imagem seja eficaz é necessário que os alunos sejam alfabetizados visualmente.


Ser alfabetizado visualmente é dominar uma linguagem e servir-se dela como elemento de comunicação. É ter a capacidade de diferenciar o essencial do acessório; o que a imagem representa e o que significa.


Alfabetizar visualmente é uma tarefa lenta e progressiva, que levará bastante tempo a concluir-se, tal como ensinar a ler e a escrever.


Tal como para ler e escrever os alunos conhecem um alfabeto, também para ler imagens os alunos precisam deter um alfabeto visual, que os educará e capacitará para analisar criticamente as mensagens visuais e compor mensagens icónicas ou combiná-las com outras linguagens. (Lencastre & Chaves, 2003)


Lencastre & Chaves (2003) recorrem a Vallet para defenderem que ensinar o aluno a ler imagens significa capacitá-lo para que seja crítico e exigente.


Com a leitura de imagens o professor ensina a pensar. Lencastre & Chaves (2003) afirmam que para esse facto se concretizar é necessário ter presente duas vertentes:


- a leitura denotativa ou objectiva que consiste na descrição da imagem;


- a leitura conotativa ou subjectiva que consiste na interpretação da imagem.


A estas duas vertentes, Lencastre & Chaves (2003) citam Bullaude para acrescentar uma outra categoria:


- o núcleo semântico da linguagem visual, ou seja, a zona de maior significado da imagem; aquilo que nos ajuda a distinguir o que é nuclear do que é acessório.


De acordo com Aparici & Garcia-Matilla, citados por Lencastre & Chaves (2003), existem duas teorias para abordar a leitura de imagens:


- a tipográfica que é semelhante à da leitura de um texto (tendo em conta a direccionalidade da leitura: de cima para baixo; da esquerda para a direita);


- teoria da Gestalt, que da primeira impressão global obtida, se vai concentrando nos diferentes núcleos de interesse.


Podemos, assim, concluir que a imagem, desde que bem utilizada, é facilitadora de aquisição de conhecimentos, é capaz de, facilmente, captar a atenção dos alunos e levá-los a participar activamente na aula.


Estamos de acordo com Lencastre & Chaves (2003) quando dizem que “a nova geração nasceu num mundo rodeado de imagens, e cabe ao professor a responsabilidade da sua introdução de forma eficiente na sala de aula, ensinando os alunos a gerir a informação e a comunicar com e pelas imagens”.





Referência Bibliográfica:





LENCASTRE, José Alberto & CHAVES, José Henrique (2003). Ensinar pela imagem. Revista Galego-Portuguesa de Psicoloxía e Educación. Nº8. Vol.10. p.2100-2105